Total 90s - XXX

Neste mês: uma última caminhada que dura mais de três horas; uma enciclopédia da qual afinal havia necessidade; uma banda que viaja sem se mover e o homem-morcego com pressa para se despachar.

Filme: ‘À Espera de Um Milagre’The Green Mile (1999)

Paul Edgecomb (Tom Hanks) conta à sua amiga Elaine Connelly (Eve Brent) as histórias do tempo em que trabalhava como guarda prisional, no corredor da morte da penitenciária de Cold Mountain. Vivia-se a época da depressão, quando o Sul deliberou que os condenados à morte deveriam estar sob a tutela de um guarda. Paul ficou responsável por quatro homens que esperavam a sua vez para atravessar a "Green Mile", nome dado ao corredor de chão verde que os condenados deviam percorrer para chegar à sala da cadeira eléctrica. Durante anos Paul acompanhou vários homens na sua derradeira caminhada. Todos temiam a morte e todos questionavam a justiça, mas Paul nunca conheceu nenhum como John Coffey (Michael Clarke Duncan), um negro enorme acusado pelo brutal assassinato de duas meninas de nove anos. Ele tem tamanho e força para ter cometido o crime, mas seu comportamento é completamente oposto à sua aparência. Além de ser simples, ingénuo e de ter pavor do escuro, possui um dom sobrenatural.

Cinco anos após a aclamação de ‘Os Condenados de Shawshank’ (1994) por parte da crítica, Frank Darabont decidiu recorrer à sua fórmula vencedora: adaptar e realizar um filme baseado numa obra do escritor norte-americano Stephen King passada num cenário prisional. Inicialmente, a temática semelhante ainda fez Darabont questionar a opção mas após ler o romance de King, o argumentista e cineasta franco-americano ficou convencido e escreveu a adaptação em menos de oito semanas. Tom Hanks foi escolhido para o papel de Paul Edgecomb após sugestão do próprio autor do livro e o, até então, pouco conhecido Michael Clark Duncan foi seleccionado para dar vida a John Coffey depois de Bruce Willis (com quem tinha trabalhado no ano anterior em ‘Armaggedon’) o apresentar ao realizador.

O maior mérito da adaptação de Darabont é a calma com que este desenvolve as situações. Na verdade, a primeira hora de filme passa-se sem que algo realmente relevante aconteça, a não ser as conversas e o estabelecimento do caráter dos personagens e do relacionamento entre estes. Porém, quando a verdadeira natureza de John Coffey é finalmente desvendada, a audiência reage a tal com surpresa maior do que o esperado. Da mesma forma, o realizador é habilidoso ao mesclar momentos de brutal tensão com outros de alívio cómico sem abandonar a trama. Nada em ‘À Espera de um Milagre’ acontece gratuitamente, até mesmo as incursões de “Mr. Jingles”, um pequeno rato, têm a sua importância para a história.

Sendo ‘Os Condenados de Shawshank’ um dos meus filmes preferidos, não hesitei em querer ver no cinema a segunda longa-metragem de Frank Darabont. Apesar de até ser fã do género habitual das histórias de Stephen King, o escritor destacadamente com mais adaptações das suas obras ao grande ecrã, também me agrada ver transpostos para filme outros dos seus livros fora da temática do horror. Não nego que os 189 minutos de duração do filme não se sentem mas, ainda assim, trata-se de um belo drama norte-americano a fazer lembrar os filmes de Frank Capra, em especial o clássico ‘Do Céu Caiu uma Estrela’ (1946), também dono de uma considerável dose de magia literal.

Série: ‘Herman Enciclopédia’ (1997-1998)

‘Herman Enciclopédia’ é uma série portuguesa de comédia, transmitida originalmente na RTP1 em 1997 e 1998, com autoria e interpretação de Herman José. O programa foi escrito, em colaboração com o humorista luso-alemão, pelas Produções Fictícias, nomeadamente por Nuno Artur Silva, José de Pina, Miguel Viterbo, Rui Cardoso Martins, João Quadros e Nuno Markl. A estes juntaram-se, mais tarde, outros guionistas, como Filipe Homem Fonseca, Eduardo Madeira, Maria João Cruz ou Henrique Dias. Iniciou as suas emissões a 15 de Abril de 1997 e teve direito a duas temporadas.

Trata-se de um programa de pequenas peças humorísticas (também conhecidas por sketches), todas elas relacionadas com o tema central do episódio em causa. No início, Herman fazia uma espécie de introdução ao tema (ao estilo de comédia de stand-up), culminando com uma série de piadas, de acordo com os acontecimentos da semana que havia passado. Alguns dos sketches eram precedidos de um "índice" alusivo ao nome do programa, fazendo-o lembrar uma entrada de uma enciclopédia multimédia. As peças eram interpretadas pelos actores residentes, tais como José Pedro Gomes, Maria Rueff, Joaquim Monchique, Miguel Guilherme, Lídia Franco, Cristina Cavalinhos, Vítor de Sousa e António Feio. Também contou com a participação de várias personalidades, como por exemplo a apresentadora Carla Caldeira e a fadista Alice Pires, e aparições pontuais dos actores Paulo Matos, Manuel Cavaco, Margarida Marinho e Luís Esparteiro.

O programa fez uso de várias personagens já criadas por Herman em outros programas da RTP, como Nelito (o destruidor) ou Lauro Dérmio (o famoso crítico de cinema), adicionando outras tantas: o conservador e muito católico Diácono Remédios, que está constantemente a interromper os sketches quando acha que estes ultrapassam o nível de moralidade aceitável; a sexóloga liberal Rute Remédios, mãe de Diácono, e o seu total oposto; o quarteto do "Nuorte" (empresários da EXPO’97, do Tripanário e do Pinto-Rei); o espaço ‘Melgashop’ (Melga e Mike, uma paródia às televendas); a Super Tia e a Tia Maravilha, alter-egos da Tia Batata e de Robinha, figuras da alta burguesia de Cascais; o baladeiro comunista Epifânio e muitas outras. Várias expressões utilizadas no programa ficaram celebrizadas e eram usadas frequentemente até se terem tornado parte da linguagem do dia-a-dia.

Depois de protagonizar inúmeros programas de comédia nos anos 80, com destaque para ‘O Tal Canal’, ‘Hermanias’ e ‘Humor de Perdição’, Herman José dedicou-se mais à apresentação de concursos (‘A Roda da Sorte’ e ‘Com a Verdade M´Enganas’) e talk-shows (‘Parabéns’). O regresso a um programa totalmente focado na comédia deu-se com este ‘Herman Enciclopédia’ e o humorista recuperou o seu estatuto de maior figura do humor nacional. Lembro-me de gravar alguns episódios em VHS e de rir com o meu primo sobre alguns sketches. Actualmente já não sigo o trabalho de Herman José de forma atenta mas é inegável o legado que este deixou para uma nova vaga de humoristas. Fantástico, Melga!

Álbuns: ‘Travelling Without Moving’ – Jamiroquai (1996)

Jamiroquai é uma banda inglesa formada em Londres no ano de 1992. Assente principalmente num estilo musical entre o funk e o acid jazz, a banda tem incorporado ao longo da carreira outras sonoridades que incluem o disco, house e o R&B. Jay Kay, vocalista e principal compositor, tem sido o único membro dos Jamiroquai com presença em todos os oito álbuns de originais lançados. Nascido Jason Luís Cheetham, filho da cantora de cabaré Karen Kay e do guitarrista português Luís Saraiva, Jay Kay fundou o conjunto britânico juntamente com Toby Smith, Nick Van Gelder, Derrick McKenzie e Wallis Buchanan. O nome da banda provém de uma variação da palavra Iroquoi, referente ao grupo nativo-americano que vivia em torno da região dos Grandes Lagos, entre o Canadá e os Estados Unidos da América.

‘Emergency on Planet Earth’ (1993) e ‘The Return of the Space Cowboy’ (1994), os dois primeiros álbuns da banda, alcançaram, respectivamente, o primeiro e segundo lugares das tabelas de vendas britânicas mas o sucesso interno não teve a mesma expressão a nível internacional. Foi somente ao terceiro trabalho de originais que os Jamiroquai deram o passo em frente rumo ao estrelato com o lançamento de ‘Travelling Without Moving’, de 1996. Alicerçado pelo sucesso dos singles ‘Virtual Insanity’, ‘Cosmic Girl’, ‘Alright’ e ‘High Times’, o álbum foi reconhecido pelo Livro de Recordes do Guinness como o disco de funk mais vendido da história da música.

‘Virtual Insanity’, o primeiro single, venceu um Grammy e foi presença assídua nas rádios, tendo inclusive introduzido a música dos Jamiroquai ao exigente mercado norte-americano. Com uma letra que abordava os perigos associados à engenharia biogenética, o lançamento do single acabou, quase que de forma profética, por coincidir com o dia em que a ovelha clonada Dolly nasceu. O inventivo videoclipe de ‘Virtual Insanity’ também contribuiu sobremaneira para a popularidade do conjunto britânico, com os canais televisivos de música a passarem a canção em alta rotação. Realizado por Jonathan Glazer, o videoclipe viria a ser nomeado para 10 prémios da MTV, acabando por arrecadar quatro deles, incluindo o principal “Vídeo do Ano”. Jay Kay e a sua banda manter-se-iam na ribalta e chegariam ao final dos anos 90 com a popularidade em alta, após o lançamento de ‘Synkronized’, que apresentou canções como ‘Canned Heat’ e ‘Deeper Underground’, da banda-sonora do filme ‘Godzilla’ (1998).

O meu interesse pela música dos Jamiroquai aprofundou-se por altura do quarto álbum da banda. O CD de ‘Synkronized’ passava frequentemente na sua totalidade no bar onde costumava ir com amigos e comecei a gostar da sonoridade do mesmo. Acabei por comprar o álbum numa fase em que o rock começava a perder nas rádios e fiquei fã da banda, tendo posteriormente adquirido os álbuns anteriores. ‘Travelling Without Moving’ foi o que mais ouvi e gostei, principalmente porque a sua qualidade não se limita aos singles que já conhecia, revelando ser um álbum musicalmente rico (incluindo instrumentos pouco habituais como o didgeridoo, utilizado pelos aborígenes australianos) e de fácil audição.

Videojogo: ‘Batman’ (1990)

Os cidadãos de Gotham City preparam-se para o festival do 200º aniversário da cidade. O chefe do sindicato do crime, Carl Grissom, e o seu braço direito, Jack Napier, entram em conflito e após o primeiro armar uma cilada ao segundo, Napier sofre um acidente e torna-se o Joker. O perigoso vilão pretende o controlo total da cidade e cabe a Batman impedi-lo, contando para o efeito com todas as suas armas e veículos, incluindo o Batmobile e a Batwing.

O êxito de ‘Batman’, filme realizado por Tim Burton em 1989, gerou uma notável quantidade de diferentes videojogos, para diversas plataformas, baseados na longa-metragem. O primeiro chegou aos computadores domésticos ainda no mesmo ano do filme; o segundo, disponível para NES e Game Boy, chegou às consolas da Nintendo em 1990; o terceiro foi lançado apenas para as máquinas arcade e o quarto, de todos o mais fiel à obra de Burton, chegou à Mega Drive e às diferentes zonas do globo entre 1990 e 1992.

Produzido e distribuído pela japonesa Sunsoft, a jogo para a Mega Drive caracteriza-se pelos excelentes gráficos, com os fundos de aspecto sombrio em linha com o filme. O jogo apresenta breves mas bem desenhadas cutscenes entre os seis níveis (‘Gotham City Street’; ‘Axis Chemical Factory’; ‘Flugelheim Museum’; ‘Gotham City Street – Batmobile’; ‘In The Sky Over Gotham City’ e ‘Gotham Cathedral’), nos quais será possível comandar Batman ora a pé, no seu automóvel ou nave, tudo com boa jogabilidade. O som também merece elogios, tanto a nível das diferentes músicas dos níveis como no que diz respeito aos efeitos sonoros. As críticas à versão para Mega Drive assentam no facto do jogo ter uma duração algo curta e de que o nível de dificuldade não é muito elevado.

Enquanto criança e adolescente, sempre liguei mais aos super-heróis da Marvel que aos da DC Comics mas o Batman era a excepção. Desta forma, foi com muito agrado que recebi de presente este ‘Batman’, mesmo já uns anos depois de ter sido lançado. O jogo correspondeu às minhas expectativas pois recria fielmente várias cenas do filme de 1989 e apenas desejei que a adaptação aos 16 Bits fosse um pouco mais extensa e não tão apressada. Quanto ao nível de dificuldade não me posso queixar, até porque completei o jogo várias vezes (sem batotas) e nem sempre o mesmo sucedia com outros jogos da Mega Drive.